"Eu também sou vítima de sonhos adiados, de esperanças dilaceradas, mas, apesar disso, eu ainda tenho um sonho, porque nós não podemos desistir da vida."

Martin Luther King

domingo, 23 de junho de 2013

sábado, 22 de junho de 2013

Um dia, ela viu uma floresta inteira esquecida.
Um dia, ela sonhou lá ir.
Um dia, ela concretizou o seu sonho.
Esse dia, será hoje...

E foi (:


sexta-feira, 21 de junho de 2013

Gato vadio

Gato vadio
que vagueias pelas tuas perdidas estradas
e ruas
e caminhos esvoaçados 
pelo vento, pela ruína, 
pela fúria, 
pela raiva,

pelas esperanças esquecidas ... 

o quão frustrante é o teu passo,
desconfortante a meus olhos,
que me esfaqueiam a alma
e o meu sangue,
agora velhos,
pobres.

as tuas ruínas te perseguem,
agora, 
para todo o sempre.
essas que te perseguem nos teus pesadelos, 
quando deveriam ser os nossos sonhos.
juntos vivendo,
juntos percorrendo nossas utopias maiores,
juntos amando o mundo,
as pessoas,
as rosas,
o sol,
a lua,
o nosso mar.

aquela praia chama-te.
as suas àguas caem
devagar, solenemente
do início dos teus olhos, 
pois seu fim eu nunca os encontrei.
olhos vidrados pela dor,
pelo arrependimento,
pelas águas, essas que gritam por um passado glorioso.

cheio de dor,
nem tu, meu gato vadio,
o sabes que carregas a teu peso.
sufocando-te o pensamento, 
sufocando-te essa tua alma negra,
agora suja,
outrora iluminada.

continuas o teu caminho, 
sem saber bem onde esse te levará.
apenas o destino se encarregará
de tal trabalho,
o de encaminhar-te para o nosso refúgio,
refúgio de antes de tudo
  (aquela nossa praia ... )
bem antes de tudo o que se intrometeu entre 
nós, 
meu gato vadio ...

passas pela esquina da estrada,
rua apedrejada de sonhos esquecidos
tu pisas, 
com cobardia,
com tristeza.
dobras o candeeiro que se debruça sobre ti,
nem lhe olhas,
a sua luz nem tu queres ver,
pois não queres ver a tua verdadeira Escuridão,
à luz da razão.

passas a estrada. 
tudo silêncio. tudo vazio. 
tudo o que vivemos, todas as lágrimas partilhadas,
todos os risos doados,
todos os pensamentos partilhados,
todo o sangue glorioso esbarrado nos nossos peitos,
tu te lembras.

tu te lembras
de todo o nada.

oh meu gato vadio,
está quase, quase ...
um pássaro acompanha-te nessa tua viagem ao passado.
tu afugenta-lo sem piedade.
ele tão puro, tão inocente, tão intocável. 
como uma simples criança,
criada por ti, desejando apenas o teu amor e ternura.
esse pássaro, foge então de ti,
devido a tal tamanha maldade cometida
por ti.

chegas à praia,
a que fora nossa outrora.

sentes a areia escorrer-te por entre os dedos 
dessas tuas mãos negras,
    [ou patas, já nem eu sabendo bem o que tu és, já nem eu sabendo bem em que animal te tornas ...]  
cobertas de tanto pêlo que te esconde 
esse teu verdadeiro Eu.

o salgado do mar entra-te nesse teu ar,
tua visão apura-se,
tuas memórias ganham vida.
os risos, os abraços, as corridas desenfreadas, as leituras, os passeios, as rosas, as florestas, o nosso mar,
os beijos de ternura que me davas, a esta criança agora esquecida e espezinhada que tu enraizaste, 
   eu.

as forças de um bem maior, 
um bem partilhado por nós.
esse nosso sangue puro,
de uma outra raça ...
da nossa raça. minha. tua. nossa!

porquê ...

o mar chama-te.
lembras-te quando me disseste que eu era tudo o que tinhas? 
todo o teu tudo era eu.
e para quê? 
para no final deixares esse Tudo teu deslavado em lágrimas e porquês?

para quê? porquê?

é hora. 
paras uma última vez. 
relembras-te do nosso último momento,
do nosso último adeus, 
depois de tantos outros reencontros.

à chuva, sobre o nosso guarda-chuva negro, 
me deixas agora nestas minhas memórias,
para partir para a tua busca, 
busca essa maquiavélica,
diabólica, 
que me percorre ainda meus medos
e saudades de ti, meu Sangue Venenoso.

partes agora ao mar, 
se calhar, 
para todo o sempre.

deixo-te um último adeus.
sobre esta chuva que me cai agora,
te deixo em paz,
meu gato vadio.

parte.
parte agora por esses mares longínquos da minha memória,
da minha nostalgia, 
da minha melancolia, 
da minha saudade estúpida e injusta de ti!
parte meu cobarde...

adeus meu gato vadio. 
adeus,  

Pai.